Quando o verão nos traz tudo menos a tão esperada silly season

Cada vez me emociono mais quando vejo provas da bondade humana. Se vejo um vídeo com alguém a salvar um cão de um penhasco fico de lágrimas nos olhos, se vejo a notícia de um casal que resolveu passar a tarde de domingo a distribuir litros e litros de água a quem estava preso por várias horas no trânsito, e no meio do nada, fico emocionada, e se vejo uma criancinha a dizer coisas bonitas que parecem vir de alguém mais crescido e bondoso, fico também de lágrima no olho. Vi até um video onde um peixe não abandonou o outro que ficou preso numa rede, até que houve alguém que o soltou e aí sim, lá seguiram os dois juntos e isto pode parecer tudo muito pateta mas é o que me tem agarrado aos monitores.

É estranho porque não estou grávida, e por isso com as hormonas descontroladas, e porque não sou uma pessoa assim tão chorona e melosa, e por isso tenho reflectido muito sobre esta minha tendência para ficar cada vez mais afectada com estes actos de altruísmo de pessoas e animais, que vejo e revejo em videos e notícias, e onde a explicação dos 30 e da idade adulta já não encaixa. 

Acho que cheguei a uma conclusão que pode ser até um bocadinho mais triste, pelos vistos só espero o pior e por isso fico surpreendida quando vejo exactamente o contrário a acontecer. Perceber isto não me deixou mais tranquila, e partilhar isto aqui neste cantinho que costuma viver de coisas mais felizes também me custa, mas tive vontade de falar disto aqui, por isso desculpem-me pelo post mais sério. 
Há umas semanas atrás assisti a um pedido de ajuda de um animal mesmo no meio da cidade, depois de ter sido atropelado. Respirava mal, arrastava-se pelo passeio a olhar para as pessoas, e ninguém parou. Ninguém parou até eu ter atravessado a rua e ter tomado a iniciativa de largar malas e sacos e ligar para quem me pudesse ajudar a levá-lo para uma clínica. Depois de eu estar ali já se podia parar para perguntar qualquer coisa, afinal a responsabilidade já estava ali do outro lado, de quem tinha parado primeiro e tratado do assunto. 

Nas cidades, ocupamos o espaço com infra-estruturas para nos servirem e esquecemos o espaço que nos pertence a todos. Proíbe-se a alimentação dos animais de rua, porque isso suja, e preferimos que adoeçam, passem fome e sede, ou acabem num canil, abatidos. Depois, prendemos alguns animais em Zoológicos e parques de diversões para satisfazer a curiosidade de quem não pode fazer um safari. Estes animais vivem em constante stress para que uns encham os bolsos. Ao mínimo erro são abatidos, mesmo quando nada fizeram, porque são uma ameaça. Porque alguém se lembrou de fazer uns trocos jeitosos e porque outros alimentam esta asneira todos os dias. 

Deixam-se pessoas dormir ao relento, porque criar locais para receber todos aqueles que precisam tomar um banho ou proteger-se da chuva, do frio ou do excessivo calor dá demasiada despesa ao estado. É preferível aplicar dinheiro nas touradas por exemplo, uns milhões por ano para satisfazer o lazer de uns, porque não temos mais onde gastar o dinheiro. Discutimos injeções do estado nos bancos e não discutimos a proibição de certos químicos na agricultura. Em 2016 começamos a explorar petróleo em Portugal.

Precisamos de mais pessoas preocupadas com o outro, precisamos de mais pessoas preocupadas com o ambiente, precisamos de mais pessoas preocupadas com os animais que partilham connosco este espaço. Precisamos muito ser mais uns para os outros e olhar menos para o nosso próprio umbigo. A mim parece-me que a inteligência humana vai servindo para destruir o mundo e servir apenas a economia. Ficamos burros, cegos e vamos vivendo para andar atrás de tudo o que menos importa, dinheiro e o nosso próprio conforto.

Para este fim-de-semana, deixo-vos aqui um dos documentários mais fortes que vi, e que devia ser visto por muitos. Depois de ver isto talvez não voltem a meter os pés num jardim zoológico ou noutro tipo de parques que explorem animais. O Blackfish deixa-nos perceber muitas coisas, e só este ano vi nas notícias muitos animais a serem abatidos por erros humanos, ou por acharmos que os temos de ter aqui, debaixo dos nossos olhos e das nossas mãos. 


Eu sei que este post não é feliz, mas hoje tive de partilhar convosco tudo isto que me deixa muito triste. Estão milhares a sofrer com os incêndios que destroem casas e vidas, estão animais a sofrer diariamente com a mesma maldade humana, e estão muitos de nós apenas preocupados em ter o betão ao alto, passeios limpos, turistas a entrar e a sair do país, e tudo o resto é lixo a não ser que possa ser domesticado e dê dinheiro. 

Estou a meter tudo no mesmo saco porque faz tudo parte da crueldade humana. Tudo é doloroso, mas muitos de nós só compreendem estas coisas quando elas lhes batem à porta. Por tudo isto deveríamos ser mais solidários com todos, com vizinhos, desconhecidos, animais de rua, apesar das diferenças que temos. 

Mandamos hoje boas energias para todos aqueles que de uma forma ou de outra estão a sofrer. E muita força para quem está na guerra aos incêndios neste nosso país bonito. 
As fotografias não têm que ver com o tema, mas são o pedacinho de céu que eu tenho por aqui, e pelo qual sou muito grata.

Raquel

3 comentários:

  1. Que texto bonito Raquel... E estou como tu, tantas coisas silly que me emocionam e às vezes nem sei explicar bem o porquê de ficar com um nó na garganta. Coisas simples, mas reflexo de uma qualquer bondade, de uma ligação e empatia, qualquer coisa que parece contrariar a crueldade, injustiça e cenários tristes que todos os dias nos entram pela casa adentro pelas notícias. E de facto tanto poderia ser melhor se pessoas e animais pudessem conviver de forma equilibrada e com o respeito que ambos necessitam e pelo meio-ambiente que precisam. Um beijinho grande*

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  2. É sem dúvida um post triste, mas importante. É por pessoas como tu que dá gosto viver. Obrigada.

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  3. Obrigada por me fazeres acreditar que ainda há pessoas boas...

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